quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Nas pequenas cidades, reeleição é covardia - VEJA

Alertado por sua rede de informantes, o prefeito candidato a ficar mais quatro anos no cargo foi tirar satisfações com o dono de um pequeno comércio. Não mandou assessor, nem representante: apresentou-se pessoalmente para saber o que estava acontecendo, com toda a autoridade do cargo.

Queria saber por que o comerciante estava falando mal dele e não o apoiava nas eleições. Surpreso, o dono da venda fez-se de desentendido e que, claro, muito ao contrário, adorava a administração do prefeito e irá votar nele.

Poderia ser de outro jeito? Se ousasse falar qualquer outra coisa, no dia seguinte, por qualquer papel jogado no chão ou vidro quebrado no banheiro, um fiscal iria lá e fecharia o boteco. Quanto menor a cidade, como todos sabemos, maior o poder do prefeito - para o bem ou para o mal.

Todo mundo depende dele para arrumar uma vaga na escola ou no hospital, conseguir o alvará para fazer um puxadinho na casa, abrir um comércio ou pedir licença para puxar um carrinho de sorvete. Se ele não for com a tua cara ou achar que você apóia o adversário, nada feito.

Até a Bolsa Família depende dele, já que as prefeituras controlam os cadastros e decidem quem vai ou não receber o benefício do governo federal.

Com o instituto da reeleição, o leitor pode imaginar o grau de persuasão nas mãos de um chefe do poder municipal com a perspectiva de permanecer mais quatro anos no cargo. Se, nos grandes centros, com a fiscalização da imprensa e das entidades da sociedade civil, já são constantes as denúncias de abuso de poder nas eleições majoritárias, pode-se imaginar o que acontece nos municípios onde os jornais ou emissoras de rádio são geralmente bancados pela própria Prefeitura ou amigos do prefeito.

É uma covardia. Acrescente-se a isso o fato de que, na maioria das cidades brasileiras, os candidatos não têm acesso a horário gratuito de rádio e televisão para se ter uma idéia de quão desiguais são as disputas entre quem quer ficar e os candidatos de oposição que querem entrar.

Além desta absoluta falta de isonomia na disputa, ainda há outra seqüela danosa para a democracia: o estrangulamento da renovação de lideranças.

Quando o prefeito não pode se candidatar à reeleição, após dois mandatos consecutivos, na maioria dos casos é um ex-prefeito que se apresenta outra vez e assim segue o baile, indefinidamente.

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